sexta-feira, 10 de abril de 2020

Pregos áridos


Pregaram um prego na minha garganta. O que mais poderia ter sido? Milímetro por milímetro. Mesmo assim, consigo falar e gritar. Claro que doí. Obviamente machuca. Falo e grito. Mas, seleciono. Economizo a minha dor. Converso com quem vale. Grito quando necessário. Minha garganta fechada. Pregada. Rasgado estou. Você nem tem condições de saber... Vários copos de vodca pura para parar. Vodca várias vezes para extravasar. Muito vezes. Quando respiro sinto o frio do metal desse prego fincado na minha glote. Puxo o ar. E pregos vêm entrando nas minhas têmporas. Não sangro, amor. Amor também não sangro. Cerro os olhos. Bem fundo. Que venham os pregos na minha cabeça. Martelem. Martelem. Podem martelar mais. Respiro. Len-ta-men-te. Me sinto tetânico.  Os metais se ligam. Seguem uma trilha amontoada por dentro de mim. Os pregos- lembram? — agora, são ferrugem. Corre tétano pela minha memória. Estamos oxidados. Estamos enferrujados. Somos metal podre. Somos metal barato. Deixamos de ser. Viramos ferrugem. Poeira.  Um espirro fraco. Seco. Muito árido...

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