quinta-feira, 31 de dezembro de 2009
Lápis nº2
terça-feira, 24 de novembro de 2009
Antônio para Antônio (Ainda)
Confesso que estou impressionado com o sue cinismo. Fiz uma pausa de dois dias nessa frase e percebi que ainda é possível vivenciar uma série de surpresas bem mais desagradáveis. Sim, você é cínico, mas ainda é possível encontrar gente pior. Ou melhor, versões suas que muito se parecem, mas que se diferem na intensidade e forma do mal que causam. É claro que tenho que lutar contra a minha tendência a me fascinar por esse tipo. Mas, antes disso preciso deixar de pensar que no fundo essas experiências mal-sucedidas possam me beneficiar. Já tive ganhos demais com isso, creio ser a hora de usá-las. Não é possível que seja um tipo de vivência meramente acumulativa que comporia um inventário de angústias e fracassos vividos que são listados aos amigos de forma mórbida. Antônio, comecei essa carta para você e agora percebo (termino) que é para todos os outros perdidos entre passado, presente e futuro. Sendo cada um deles pura criação minha, finalizo essa carta e a destino para mim.
Sem mais
Antônio
terça-feira, 17 de novembro de 2009
Avenida Marechal Rondon
sexta-feira, 9 de outubro de 2009
Antônio para Antônio
Antônio,
A intenção é que você nunca receba essa carta. Estou sozinho no meu quarto trancado. Não tenho cama, as paredes sem meus quadros e o guarda-roupa com as portas soltas. Falta vida aqui dentro. Durmo em dois colchonetes finos emparelhados cobertos por uma colcha grossa e um lençol novo. Uso dois travesseiros. Um de espuma e outro de penas de ganso e me cubro com uma manta que comprei no Nordeste. A cortina não tampa toda a janela e o som de fora entra sem pudor junto com a luz do dia. Sonhei com você na noite passada e é por isso que estou escrevendo. Pelo sonho e não por você. Minha campainha tocou e pelo olho-mágico da porta não pude identificar mais que um vulto. Abri a porta e você sorriu. Estava de calça jeans com a barra da cueca a mostra. Sem camisa e suado ou molhado – não lembro do gosto que tinha quando te lambi. Sua pele estava acenourada como se você morasse à beira-mar. Seu cabelo estava gostoso de passar a mão. E seu sorriso foi o catalizador para te jogar no meu colchão de casal que estava na sala. A cada fechada de olhos para te beijar, você ficava mais sem roupa. Lembro do reflexo do sol na pelugem da sua bunda e da voracidade com eu passava a língua nela. Minhas mãos deslizavam pelas suas costas em movimentos ritmados que sempre terminavam por suas suculentas carnes. Apertava seus braços e massageava seus mamilos com as pontas dos meus dedos. Beijava sua boca deitado em cima de você. Sua barba avermelhava o meu rosto. Tínhamos a cor de uma fogueira. Eu segurava seu pau pequeno e fino enquanto te invadia. Você me engolia quente. Nos engolíamos. Deitado em cima de você, olhava seu rosto encharcado e aquele mesmo sorriso da porta. Tentávamos engatar uma conversa pós, mas nenhuma palavra surgia. Mentira. Às vezes conseguíamos formar uma frase, mas nunca tinha nexo. Sorriamos como nos entendêssemos, mas na realidade não. Olhávamos um para os olhos do outro e não nos víamos. Quando acordei, percebi que nunca existíamos. Sempre fomos enuvenzados.
Sem mais
Antônio
terça-feira, 6 de outubro de 2009
Estrada do Galeão
quinta-feira, 10 de setembro de 2009
Pronomes
cabelos dele
A boca
dele
dentro da sua
Você
nele
Ele
seu
Meus olhos
sexta-feira, 7 de agosto de 2009
Roller-tip pen 0.5 (Liquid Ink)
terça-feira, 28 de julho de 2009
RUA DOS INVÁLIDOS
quinta-feira, 25 de junho de 2009
Último carnaval
Não sei como contar que eu não morri. Não tenho idéia de onde surgiu essa história. Quando percebi, o enterro já estava marcado, túmulo encomendado e as coroas de flores chegando. Tão lindas e tão caras. Ganhei um obituário de uma página no primeiro caderno do jornal de domingo e a metade dos classificados eram mensagens lamentando a minha “precoce partida”. Meu velório foi concorrido e demorado. Por fim, minha família que nem é judia se trancou com setes dias seguidos dentro de casa
Fiquei confuso com a situação, mas não posso mentir: eu fiquei deslumbrado com tudo. Minhas melhores fotos no jornal, “tão jovem e bonito para morrer”, lamentou uma leitora da seção de cartas. Até no busto de bronze no jazigo, fiquei bem. Como eu poderia simplesmente dizer que era tudo um engano, que eu estava (estou) vivo, mesmo que gordo e com alguns anos a mais na face? Não dava. Tinham eternizado a minha imagem. A mesma que ficou para você naqueles três dias de carnaval que passamos juntos numa praia na divisa entre o Espírito Santo e a Bahia. Morto, era como se aqueles dias fossem intermináveis, em loop.
Não sei se agora você ainda lembra. Mas, eu nunca esqueci. Você foi meu grande e eterno amor de carnaval. Sazonal, mas intenso. Espero muito que um dia a gente volte a se corresponder e que você entenda tudo o que fiz, ou melhor, que deixei de fazer. Anseio que você entenda meu encantamento por essa morte falsa, porém onírica. E que também compreenda que tive receio de que, depois de terem feito esse luto por mim, não quisessem chorar mais uma vez quando, de fato, eu morresse. Você não tem idéia de como é triste uma funeral vazio. É como se a gente não tivesse morrido.
Um beijo com saudade,
H.S
Vitória, 13 de Março de 2009.