terça-feira, 28 de abril de 2009

Manchas de você

A cadeira está no meio da sala. Parada. Imóvel. Quente. Os jornais soltos se espalham a cada rajada de vento. Os Classificados estão grudados sobre a televisão. A minha camisa ainda pendurada na cama tem você em manchas. Assim como a minha parede e meu piso de mogno branco. É bem capaz que eu mesmo tenha manchas de você na minha pele. Pelo meu peito. Barriga. Lábios. E nuca. Se eu reparar bem vou achar o desenho de um leito de rio percorrendo minhas coxas e desaguando nos intervalos entre os dedos de um dos meus pés. Não vou desconsiderar as manchas mais profundas – na mente, na alma e na lembrança. É bem capaz que a nascente do tal rio seja bem no meio dos meus olhos, entre eles. Dificilmente, antes de chegar às pernas, tudo deve ter percorrido um acidentado caminho pelo meu corpo. Sou todo uma grande mancha de você, a ponto de, no final, ter apenas respingos de mim. Quando me olho no espelho pendurado em frente a cama, me enxergo transparente com veias expostas sem sangue e preenchidas por você. Venoso.

2 comentários:

Raquel Galvão disse...

nossa!!! Beijos

Katarine Rosalem disse...

Sublime!
Como adooooro seus textos e sua forma de escrever!
grande beijo!!