quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Dentro d'água

Você se afogava naquele rio de agonia. Eu assistia tudo da margem. me atirei na água para tentar te ajudar. Meu maior erro. Eu não sabia nadar. Você no desespero se debatia e me empurrava para o fundo. No fim, você continuava a gritar e eu aos poucos afundava até sumir. Você morreu. E eu agora tento voltar a superfície. Você morreu. E seu corpo continua apodrecendo na beira do rio. Os abutres já comem sua carne. Se deliciam do seu sabor. Eu já não tenho fôlego para me manter submerso, tampouco forças para subir. Tenho medo que os carniceiros comam seu coração antes que eu possa emergir.

domingo, 17 de novembro de 2013

Lavalle y Polidoro

Ele caminhava perdido por aquelas esquinas que insistiam em não se cruzar. Aquela vodka que fazia todas as conexões cerebrais fluírem em zig-zag. Ele parou o táxi quando viu o Obelisco. Riu das notas velhas que faziam o taxista feliz. Foi e voltou. Voltou e foi. Desceu menos de dez degraus e deve ter pagado 20 pesos. Ignorou aquele gordo horroroso que queria se prostituir sem nada oferecer. Sala 1 e aqueles olhos tristes tão lindos que era suficientes para fazer valer toda aquela volta ao lado ocidental do rio da Prata. Precisava ter certeza. Sala 2. Nada! Sala 3. Nada tampoco! Sala 4? Hay? É possível que não! Ele te seguia e você o atraia com seu corpo, sua energia e sua vontade de ganhar a noite.

Hola! Deve ter dito isso. Menos de um minuto já estava com sua língua dentro da boca dele. Camisa e meias listradas. Rayadas? Fez ele rir. Tocou todo seu corpo. Eram seres exóticos em meio àquele lugar repleto de peles mal ajeitadas. Eram lindos. Eram especiais. Aquele piso sujo. Aquele cheiro horrível. Eram ridículos por ver beleza no meio do nada. Quando ele olhou para ele, ele sabia que ele era él! Não tinha dúvidas que queria aqueles olhos que brilhavam na escuridão. Aqueles olhos que mostrariam o prazer, o carinho, o amor. É verdade que ele não tinha noção de tudo isso. Mas, ele era ele e isso bastava.

Ele falava espanhol. Ele tinha a fluência que a vodka presenteia os poliglotas. Ele ria com as coisas mais loucas que ele dizia. Ele só via o brilho dos olhos tristes. Se beijaram naquela parede suja. Viraram uma atração circense em meio a tanta sujeira. Estavam ali para redimir tudo aquilo que a hipocrisia insistia em classificar. Óbvio que foram atrás de um gozo rápido e anônimo.  Mas os planos deram errado. Ficaram além do tempo. Falaram além da conta e se apaixonaram.  Precisaram de meses para saber disso. 

Falaram, hablaram, se beijaram, se chuparam e fizeram cócegas na barriga um do outro, no ego alheio. O sol de guerra já estava a postos. Ele o levou até a Uriburu. Só tinha que pedir para o taxista seguir em frente. Sem medo. Trocaram os telefones. E nas primeiras mensagens tudo já indicava que tudo era ainda o começo de tudo. Chegou suspirando no elevador arcaico e se jogou naquele chão que lhe servia de cama como se fosse o maior king size da Argentina. Estava eufórico que deveria no sangue ter mais adrenalina que glóbulos brancos. Tinha sorte.  Na primeira noite, encontrou o amor da vida e na segunda, ouviria o canto da sereia do ártico. 

Queria contar para todo mundo. E contou. Poderia ser um iludido, mas até segunda ordem tinha conhecido “el nene”. Se sentia a prostituta amadora que acredita que aquele cliente mais carinhoso a ia tirar da zona de baixo meretrício. Estava liberta do cafetão da incerteza. Ele só pensou nele. Ele só queria falar com ele. Ele transou com outros pensando nele. E ainda teve a coragem de contar suas angústias para o outro que apenas queria que ele metesse novamente dentro dele seu prazer efêmero e seu gozo espesso. Ele era cruel. Ele ignorava o tesão alheio. Gastava todas suas notas surradas em garrafinhas de Absolut y energizante. O outro perdeu as esperanças e se foi. Ele só queria ele.  Ele não queria mais ninguém. Um hemisfério interferia no outro.

Eles se desencontraram. Ele ousou. Ele cruzou a linha do bom senso. Ele estava certo. Eles se queriam e não tinham por que não estarem juntos. Mas, Buenos Aires é longe de Rosário. Pensou em pegar um avião e conhecer mais uma cidade argentina. Não tinha dirección! Eram sms espaçados. Ele o convidou e ele aceitou. Um trânsito infernal. Uma incerteza. Tudo errado. E aqueles olhos tristes sentados esperando ele. “Qué raro es eso”, ele se limitou a dizer. Eles tinham pouco tempo. Entre o check in e a imigração, pouco sobrava. Uma foto clandestina e sem foco. Um pedido de privacidade. El Río de La Plata ao fundo. Eles se beijaram. Eles se beijaram. E aquele beijo durou um ano. Ele ainda sente o gosto daquele beijo. É doce, mas também é salgado. É um beijo salobro. Mistura da doçura e imensidão do rio com salmoura e violência do oceano. É um beijo triste com o sabor de um amor que não existe mais, mas que se moldou eterno e sem substituto. Um beijo de espera. Um beijo de paciência. 

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Uma mensagem após o sinal

É claro que essa “carta” poderia vir naquelas noites de vodka e em que a pele fica aveludada assim como os sentimentos. Eu queria muito que fosse assim, mas são sete e pouco da madrugada e eu devo ter dormido só umas três. A gente voltava juntos e você disse que sempre que passa em frente ao supermercado grande lembra dele. Eu disse que também lembrava. Você contou que naquele dia tinha gostado muito dele. Mas, eu não falei que nunca deixei de gostar. Claro que desviei o assunto dizendo que ainda queria minha vingancinha boba e emendei com um monte de bobagens. A verdade que com o tempo, as coisas ruins foram ficando pequenas e eu fiquei repleto de lembranças felizes mescladas com frustrações. Óbvio que também lembro de nós comprando qualquer coisa, de vocês sendo apresentados na fila do caixa e ele com o carinho laranja pela General Polidoro. Eu me lembro de todos os dias dele aqui no Rio, dos meus lá, do primeiro encontro e do último não-encontro. 

Acho que lembrar nem é o verbo. De fato, não esqueço. Não é aquela memória que estava lá no fundo do mente e vem. É um filme em looping que é interrompido pela vida que segue diariamente. É assim quando me deito e recordo dele na minha cama, mesmo ainda quente e úmida depois de mais uma visita furtiva.  Ou quando passo por um lugar bonito ou vejo alguma peça de design diferente. Só precisei de um ano. Cinco meses já se passaram e sempre me vejo com essas “recaídas”. Eu imagino que nada de que estou te falando seja uma surpresa. E eu já estava bem disposto a reiniciar o contato. Não, não em busca de um retorno onde paramos. Seria lindo, mas seria falso. Queria voltar a ter as conversas divertidas e longas. Queria poder olhar para ele que entendo melhor o que a gente passou e que hoje teria sido mais suave. Eu estava bem disposto a isso. Talvez, eu esperasse até depois de amanhã. É uma idéia que eu estava amadurecendo. Eu ia precisar de uma deixa boa. Nossos aniversários já passaram e não temos tanto assunto.

***

Não tem Cristo hoje. As nuvens o cobrem todo e só um pedacinho da pedra está exposto. Eu, me sentindo em 1999, ouvindo Joinning You – versão mais lenta que só tocava no rádio - enquanto te escrevo. Eu, me sentindo um trapo. Sabe quando a gente tem certeza de uma coisa ruim e fica com aquela esperança até o fim de estar errado? Então, eu estava certo. Bem certo. Dardo bem no meio. 100 pontos. É claro que eu poderia ter ficado com a dúvida, mas ser outra pessoa pode ser mais complicado do que dizer que me chamo Henrique para um desconhecido. Um álbum cheio de fotos de um amigo em comum. Ele reaparece com aquela mesma carinha e olhar triste. Reparo e vejo por debaixo do cardigan uma camisa que eu foi minha e eu dei presente. Seta da direita. Mais uma foto. Passo. Agora, ele sozinho tirando uma foto com o celular – que já não é o mesmo e provavelmente tem agenda nova. Next picture. Gente aleatória. 

Next. Next. Next . Pronto!  O louco aqui não estava errado – e nem um pouco feliz por isso. Os melhores amigos na mesa e a nova conquista sendo apresentada – a legenda dizia isso, caso eu fosse um pouco lerdo. Todos lá, comendo a sobremesa que eu nunca pedia e conversando no momento que eu já teria pedido a conta. Mas, um detalhe: o cara vestia uma outra camisa que foi minha e que também dei de presente – não a ele. Que merda é essa? Por que aquele garoto estava vestindo aquela blusa? Será que ele sabia a história dela? Eles agora dividem o guarda-roupa?  Não, não me interessa. Mas, não existe o botão off. Mais fotos e agora são do aniversário dele. No ano passado, ele vestia a mesma camisa que o garota usava na foto anterior. Confuso não? E agora, vestia outra camisa que foi minha e... 

Enfim, dois anos seguidos e "eu na festa". A amiga solteirona feliz – ou fingindo, só saberemos a verdade depois de mais um término, o amigão, os dois juntos mais não muito conectados. Não sei se é uma forma de me confortar, mas eu não via uma olhar feliz nele e a camisa... Não acredito que não tenha percebido a coincidência. Mas, nem sempre dá para ter certeza se foi um ato falho ou apenas um cachimbo. E eu, tremi de raiva. E eu, tentei dormir e sonhei com tudo. O farmacêutico avisando que agora ele moravam juntos e eu saindo por Buenos Aires tentando esbarrar um encontro, uma satisfação e sem rumo nenhum. Não era difícil ter dito um sonho ruim – que a medida que te escrevo, esqueço. Já devo ter repetido mil vezes a música. Ela veio na hora quando pensei em te escrever. Colaria os trechos que dizem exatamente o que penso e adaptaria os demais. Mas, sei que já estamos afinados para eu não escrever e você ler mesmo assim. Desenhei. Tentei escrever para você duas vezes. Apaguei. E agora, temos isso, minha longa mensagem após o sinal. 

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Compact Disc

Foi um play naquele disc-man velho à pilha que ele insistia em usar. Mochila no colo. Sentado no banco e olhando para a janela. O ônibus navalhava a pista central da avenida da praia. O vento invadia tudo pelas janelas abertas. Todos pareciam em transe. Cansaço? “If travel is searching anda home has been found…”.  Eu vi que havia muitos lugares vazios, mas eu quis me sentar ao lado dele. Ele usava um óculos escuros wayfarer azul. Uma blusa xadrez colorida de flanela. Tinha uma barba rala, dessas que não enchem o rosto nunca e quase se parecem com sujeira, mas têm seu charme. Ele não se virou para mim. Continuou sentado olhando aquelas ondas em ressacas que faziam um estrondo quando quebravam na areia fina e branca que naquele dia estava ainda mais alva por conta da luz dos refletores da praia e da lua quase cheia.  “I’m not stopping...”.  Eu ouvia o som vazar baixinho dos seus headfones e via sua mão dançar discretamente no ar. Tinha momentos que eu podia jurar que a gente trocava olhares pelas nossas imagens refletidas na janela.  “...thought that i could organise freedom...”. Seus lábios cantavam quase afônicos. Era um sussurro bem algodoado. Seco, mas macio.

Nossas pernas se tocam nas curvas mais bruscas e nossos braços não se desgrudavam. Eu sentia a manga da sua blusa tocar minha pele. Eu tinha vontade de sentir meus dedos passeando pelo tecido, por suas costas, pelos cachos do seu cabelo. Não sentia necessidade de falar nada e nem que ele me encarasse. Não, eu não tinha vontade de tirar sua roupa e nem de beijar sua boca. Queria abraçá-lo.  Muito forte. Ele repetia compulsivamente a mesma música e eu percebia que ele dava rewind em trechos “I’m hunter. I’m hunting...”.  Por vezes, não deixava a canção terminar antes de repeti-la a exaustão. Tinha medo do skip. Dava para perceber isso. O ônibus deixava para trás outros e carros menores. A cada ultrapassagem, as rajadas de vento eram mais fortes. Eu estava com frio. Ele não se importava. A gola da sua blusa se mexia e ele, estático. Coloquei minha mão em seu ombro e esperei que ele se virasse. “Pode fechar a sua janela? Está chuviscando”. Sem virar para meu lado, ele fechou uns dois centímetros. Já não cantava mais e seus dedos permaneciam imóveis. A luz do ônibus falhou como em piques de eletricidade. Claro. Escuro. Claro. Escuro. Frio. Frio. Frio. Muito frio. Eu não sentia mais ele. Não escutava mais sua música. Ouvi um barulho vindo do teto e pela fresta da ventilação o vi sorrindo. Ele tinha um lindo sorriso que manteve no rosto enquanto escorria de lá de cima como se fosse poeira varrendo o asfalto. E cegando a vista.  

terça-feira, 30 de julho de 2013

Daquilo que não será

Aquele barulho da chuva caindo no seu teto transparente. Cocegas na minha barriga. Sorriso depois de escutar minhas brincadeiras irônicas. Seu olhar me vendo tomando vodka. A brilhosa disposição matinal.  El acento. Los besos en el cuello. La risa. El Río. O Rio de Janeiro. Las milanesas. As surpresas. Las surprisas. O guaraná.  Aquelas conversas sem hora para terminar ou até que a conexão mala nos separe. Los mensajitos por whatsapp. A pronúncia de “Big Mac”. Aquele olhar melancólico. Pernas enroscadas debaixo de um cobertor esperando o calor do aquecedor se juntar ao nosso. Os banhos quentes sem medo do reservatório esvaziar. As fugas da água gelada proposital. Botafogo. Vista para o Cristo da cama. San Telmo. Eu e Vos. Você y Yo. Nem Björk. Muito menos Morrissey. Nem Galeão ou Ezeiza. Sem beso no portão de embarque do Aeroparque.  Fin de reclamos. Fin de amor. Fin de los reclamos de amor o fin del amor de reclamos. 

segunda-feira, 17 de junho de 2013

O sofá vermelho

Está tudo bem diferente desde a última vez que você sentou nesse sofá. É claro que ainda temos a vista para cozinha e para a sacada da sala. Mas, as flores e plantas da horta morreram. Na verdade, ainda tem um pé de alecrim capenga, um vasinho de planta doado e uma muda não identificada que crescem mesmo sem ser regada. Quase todos os quadros são novos, mas não combinam muito. Outros tantos esperam um prego na parede para serem pendurados. Há ainda aqueles que esperam ser emoldurados. Falando em parede, uma delas agora é vermelha - ou bordô, como dizem pessoas que sabem distinguir paletas de cores.  Resolvi colocar a mesa mais para o centro e agora volto a fazer uma das minhas artes em seu tampo. Pode ser que fique bonito.

Aquela luminária vermelha agora fica em um lugar novo ao lado do sofá e onde ela ficava, agora está a televisão.  A bicicleta continua sem lugar e destoa de tudo. Não que a mesa de centro combine com algum móvel ou ainda, não que algum móvel combine com outro. Hoje, faz um silêncio muito grande. De vez em quando, ouço os gritos de uns garotos que ficam na pracinha ou de gatos no cio. De noite, não tem nenhuma criança e o balanço não range. Vou te falar que acho que sofá já não está mais tão vermelho como naquela foto em que você está nele segurando um taça de vinho e escutando conversas que você não conseguia entender. Na fotografia, a cor era bem mais vibrante e quase se fundia com a sua camisa que também era vermelha. Pouco a pouco sinto ele vai desbotando e ficando empalidado como aquilo que a gente chamava de amor.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Calle Humberto Primo


Porta pesada. Corredor escuro. Tem a escada de mármore branca. Tem o elevador preto. Abre, abre, fecha, fecha. Aperto o quatro. Abre, abre, fecha, fecha. Se vira a direita, temos o 30. Aquecedor com duas lâmpadas queimadas, mas que não deixa congelar. A banheira antiga com água rala. Chão de pastilhas. As duas poltronas, a mesinha linda de centro e uma luminária. Tem uma escada, mas você pode flutuar. Lado direito, abajur. Lado esquerdo, janela. Dizem que lá fora faz muito frio. Nessa cama, muito calor. Se vira a esquerda, o 29. Porta de aço fechada que não abre, nunca abriu e nem... luz acesa do lado dentro por trás do vidro frisado. Sim, aqui fora faz muito frio.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

10 anos


Um dia, eu sentei em uma salinha fria com vários computadores desligados e comecei a escrever. Não tinha muito sentido e eu só queria que qualquer pessoa pudesse ler aquilo que eu pensava por mais que fosse tudo uma pequena piada interna. Eu escolhi o melhor template com muito cuidado e nem por isso acertei.  Falei para os amigos e por algumas semanas levei tudo a sério. Me achava “ligado” e se tivesse um cartão de visita, aquela informação lá estaria. Não faço idéia de quantas vezes eu mudei desde então. Vagamente sei de tudo que aconteceu. E sempre vem uma saudade de diversas épocas que aqueles textos e comentários me remetem. E ai, 10 anos depois, vejo que posso não ter saído do lugar, mas já dei muitas voltas no meu próprio eixo e nunca vi a mesma coisa 360 graus depois. Se tudo tem seu fim, ainda não sei quando isso aqui chegará. Mas, eu vejo os olhos e sinto o mesmo cheiro e meus pêlos ainda estão ouriçados. Eu mudei muitas vezes, mas minha pele ainda absorve tudo que pode em minha volta e eu tento ruminar tudo até que no final tenha algo novo.  

sexta-feira, 29 de março de 2013

A flor de estrada

Cortando o interior da Bahia. Uma chuva bem rala na estrada. Os vidros do ônibus embaçados. No acostamento, bananeiras dançavam com o vento. Começo do dia ou fim da tarde. A mesma luz. A gente era feliz. Eu dormia. Eu acordava. Zzzzonolento.  Não sei de quem foi a idéia de por aquele disco da Gal para tocar. Caixas de som abafadas.  Minha honey baby. Baby. Honey baby. Você passava a mão nos meus cabelos enrolando o dedo mindinho  nos cachos que formavam tímidos. Era gostoso. Mesmo com meus olhos pesados, eu via seu sorriso para mim. Oh minha honey baby. Tão sincero. Por que você era tão carinhosa? O caminho era uma grande reta. A velocidade do ônibus aumentava e as gotas da chuva iam escorrendo pelas janelas. Lágrimas que evaporavam. Eu respirava bem forte para dentro do meu pulmão e tentava não soltar o ar. Achava que se eu fosse segurando, ia sair mais leve. A idéia era flutuar como uma sacola plástica que cai em vendaval. Gira. Gira. Gira. E depois se arrasta pelo chão e fica na beira da estrada. Ou presa em algum galho. Quem sabe.