Cortando
o interior da Bahia. Uma chuva bem rala na estrada. Os vidros do ônibus
embaçados. No acostamento, bananeiras dançavam com o vento. Começo do dia ou
fim da tarde. A mesma luz. A gente era feliz. Eu dormia. Eu acordava. Zzzzonolento. Não sei de quem foi a idéia de por aquele
disco da Gal para tocar. Caixas de som abafadas. Minha honey baby. Baby. Honey baby. Você passava
a mão nos meus cabelos enrolando o dedo mindinho nos cachos que formavam tímidos. Era gostoso. Mesmo
com meus olhos pesados, eu via seu sorriso para mim. Oh minha honey baby. Tão
sincero. Por que você era tão carinhosa? O caminho era uma grande reta. A velocidade
do ônibus aumentava e as gotas da chuva iam escorrendo pelas janelas. Lágrimas
que evaporavam. Eu respirava bem forte para dentro do meu pulmão e tentava não
soltar o ar. Achava que se eu fosse segurando, ia sair mais leve. A idéia era
flutuar como uma sacola plástica que cai em vendaval. Gira. Gira. Gira. E depois
se arrasta pelo chão e fica na beira da estrada. Ou presa em algum galho. Quem sabe.
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