sábado, 11 de junho de 2011

Avenida das Américas

Nada além dos dois segundos. A paisagem muda. Tão rápido que nem chega a ser. Apenas no vermelho. Os números chegam a cinco dígitos. Sempre terá alguém que possa pagar. Pista central. Dois sentidos. Sul e Oeste. Freeway. Simonsen. Guanabarra. Square. Riviera. Santander. Garden. Garden. Você pisca o farol. A gente se ouve, mas não se vê. Ayrton Senna. Armando Lombardi.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Sobre o sonho

Provavelmente, naquela noite, eu ouvi tudo o que queria e devia escutar, mas estava bêbado o suficiente para não lembrar. Agora, fico sonhando com você. Como se ainda tivéssemos um pedaço de história não vivida. Até pode ser, mas nada garante que seja bom.

Dito isso, chego a conclusão que é melhor esquecer desses sonhos. Assim como eu esqueço daqueles que me deixam imobilizados durante o sono. Um dia (no sentido de marco e não de cronologia, pois foram meses) eu fiquei sem poder me mexer mesmo acordado e de pé. Sua cara safada e seu corpo muito do gostoso não valeram a pena. Anos depois, é a grande certeza que eu tenho. Mas, se um dia assim como no sonho, você ficasse tão perto de mim e tentasse me beijar... Eu não negaria. Fato!

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Deitada no sofá, ela dorme

Dorme no sofá da sala. Minha vontade é de sempre levá-la embora comigo. Nem parece que fala gritando. Que sempre resmunga quando acorda. Tem uma inocência que é mais bela que a das crianças. Explico. Ela mantém uma pureza de olhar que quase cinco décadas não conseguiram tirar. Se ela fala baixo, eu quase choro. Ela não sabe lidar com o dor. Não teve a do parto. Não tolera bem as partidas. Sozinha no sofá da sala e com a televisão ligada. Sempre fico tentando imaginar seus sonhos. Às vezes, ela narra trechos enquanto cochila. Antes das seis vai acordar. O ritual é o mesmo todo dia. Vai se levantar e colocar a água para esquentar no fogão. Começa a se arrumar. A água ferve e ela joga o pó de café. Sempre muito pó. Açúcar nem tanto. O coador tem que ser de pano. Ela vai beber apenas metade do que colocou na xícara. Se tiver pão, vai comer também. Etapa final da arrumação. De frente ao espelho vai pentear os cabelos e prendê-los bem rente a cabeça. Pronta. Segue rumo ao trabalho e só volta no fim da tarde.

Todo vez que eu a racionalizo, seguro as lágrimas. Isso, definitivamente, eu não aprendi com ela.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Postais extraviados

Ele não vai te enviar nenhuma carta. Não entendo por que você espera tanto. E você não será a musa de nenhum poema. Nem mesmo de um bilhete num guardanapo de bar. Disso, ele faz papel para fumar um baseado. Ele não vai dizer que te ama. Mesmo que você insista em forçar uma declaração. Talvez, ele nunca olhe para sua cara. De fato, ele já deletou seu telefone do celular e só não te apagou de todas as redes sociais porque ele não tem perfil em nenhuma delas. É provável que ele já tenha esquecido seu endereço. Ele não vai te enviar nenhum cartão postal. Mas, se eu fosse você, esperaria do mesmo jeito.

quinta-feira, 31 de março de 2011

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Estação da Glória

Entre o vão e o trem mora a esperança. Quando ele chegou naquela estação sua cabeça girava com se seus neurônios sambassem ao som de música clássica. Os sinais e cartazes de aviso o confundiam como se estivessem escritos em inglês soviético. Ele não sentia a sua pele. Era um veludo bem grosso que o protegia do calor de mais 50 graus. Gostava dos bancos brancos brilhantes. Esperava. Subia e descia as escadas rolantes. Esperava. Andava pelas plataformas. Cantava. E quando trem chegou. Morreu.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

-/- (título original: negativo, negativo)

Abriu os olhos e não conseguiu tocar no despertador que berrava há pelos 2 horas. Saiu da cama e o chinelo fugiu dos seus pés. Estava sem roupa nehuma. Quando tentou tomar banho, estranhou ao perceber que nenhuma gota de água caia no seu corpo. Ele tinha se transformado em um imã e tudo ao redor estava no mesmo pólo. Logo se acostumou com a situação. Ainda era complicado sair de casa pelado, mas com um tempo ninguém mais reparava. Gostava de saber que nenhum mosquito o picaria nunca mais. Era quase um ser pintado de urânio, só faltava brilhar. Não tinha muito o que reclamar com os benefícios. Difícil era não poder abraçar mais ninguém. Por um momento pensou que se tivesse acordado duas horas mais cedo, sua vida estivesse diferente. Mais atrair tudo em volta também não seria legal.