terça-feira, 24 de novembro de 2009

Antônio para Antônio (Ainda)

Lapa, 13 de outubro de 2009
Antônio,
Confesso que estou impressionado com o sue cinismo. Fiz uma pausa de dois dias nessa frase e percebi que ainda é possível vivenciar uma série de surpresas bem mais desagradáveis. Sim, você é cínico, mas ainda é possível encontrar gente pior. Ou melhor, versões suas que muito se parecem, mas que se diferem na intensidade e forma do mal que causam. É claro que tenho que lutar contra a minha tendência a me fascinar por esse tipo. Mas, antes disso preciso deixar de pensar que no fundo essas experiências mal-sucedidas possam me beneficiar. Já tive ganhos demais com isso, creio ser a hora de usá-las. Não é possível que seja um tipo de vivência meramente acumulativa que comporia um inventário de angústias e fracassos vividos que são listados aos amigos de forma mórbida. Antônio, comecei essa carta para você e agora percebo (termino) que é para todos os outros perdidos entre passado, presente e futuro. Sendo cada um deles pura criação minha, finalizo essa carta e a destino para mim.

Sem mais

Antônio

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Avenida Marechal Rondon

Apenas carros em alta velocidade. O sinal vermelho é uma pausa estranha ao fluxo. Senhoras gordas e mulheres em micro-shorts atravessam correndo a avenida. Tudo parece que vem do nada e segue para lugar nenhum. Esperando o ônibus, ela anuncia a notícia que acabava de ouvir no seu mp3 da Uruguaiana: o Brasil ganhou. Tinha uma felicidade solitária no seu riso. Se sentia a mensageira das boas novas. Só ela sabia o que aquilo significava para si. Nunca mais voltaria ao hospital da redondeza. Quando o 510 chegou, entrou e sentou alegre numa cadeira na janela. Dois dias depois, morreu.