segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Última primavera


Tinha um pequeno jardim na entrada de casa. Vasos de vários tamanhos com flores, hortaliças e plantas apenas verdes. Pendurados na parede, no chão ou em cima da mesinha que usava para tomar sol nos dias quentes. Os galhos das plantas maiores se espalhavam por todos os lados e formavam esculturas que mudavam de acordo com o vento e a chuva. Tinha dia que pareciam monstros cheios de tentáculos ramificados. Por vezes, ganhavam a aparência de anjos de presépio. Mas, às vezes apenas secavam. Iam perdendo as folhas e tombando como um corpo sem ossos. Na queda, puxavam as flores dos vasos menores, quebravam as hortaliças e por fim, ficavam cinza. O piso xadrez do chão sumia e quem nele pisasse ouviria o som de creque-creque da madeira seca. Se tivesse descalço, espinhos e farpas entrariam rasgando pela sola do pé. O sangue não jorraria. Seria sugado pelos galhos. Aos poucos uma ou outra folhinha verde começaria a nascer. Os vegetais iriam voltando a ganhar suas formas originais. Quanto mais sangue, mais beleza floral. Até orquídeas selvagens surgiam. Até o fim da transfusão de alma, o pátio ficaria como uma pequena mata fechada. Diversos tons de verde, cores e cores das flores e frutos. Algumas borboletas começavam a chegar. Pássaros pequenos, tartarugas e macacos dourados.  Quando já não restasse mais sangue, tudo já estaria tão exuberante e o sistema estabelecido. Aos poucos a clorofila iria entrar pelas artérias do pé e sumindo pelas pernas até chegar ao coração. Aos pouco o vermelho seria substituído pelo verde. Violetas surgiriam das pontas dos dedos e de dentro da orelha saíram flores de maracujá. Girassóis dos olhos, os pelos virariam alecrins e da boca sairia um último grito. Começava mais uma primavera.

sábado, 21 de julho de 2012

Inverno carioca


São aqueles olhos que te observam antes mesmo de você abrir os seus. Sentado na cama, olhando o cristo, sem camisa e pensando... Não dá para saber. Ainda não os leio. É aquele abraço forte durante a madrugada que continua até o sol da hora em que você se levanta. Beijos no meu pescoço, mãos passeando pelo meu corpo com um tato que não deixa dúvidas das intenções porque essas se concretizam. São palavras doces que queimam o ouvido e melam o peito.  Calado e olhando bem dentro dos meus olhos como se pudesse chegar a qualquer lugar sem menor dificuldade. Deitado na minha cama e de olhos fechados com aquele vento da praia acariciando sua barba como os meus dedos. Era o sabor de maresia nos seus lábios. É aquela blusa laranja esquecida na minha cama. Seu perfume percorrendo minha memória e trazendo felicidade a cada puxada de ar. Caminhando sozinho debaixo da luz fria e entre as cordas pretas. Uma tela cheia de megapixels e uma melancolia sem fim. Por fim, ouço você me gritando em aleman.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

9 anos!

cada vez menos, cada vez mais e lá se vão 9 anos de blog!
longo tempo!
curto espaço!

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Possibly Poetry


E ai, eu abri a porta da sala e te encontrei sentado no chão com laptop no colo ouvindo Pagan Poetry e completamente bêbado. E eu vi seus pés se aproximando de mim. Você imóvel e concentrado na música e nos seus dedos que batiam no teclando como se perfurassem um coração pulsante. Meus dedos tentando animar um coração sem vida. Um olhar perdido para dentro do plasma. Meus olhos vendo suas panturrilhas e controlando para não subir para suas coxas. Um sorriso de lua minguante como se estivesse fazendo as mais perversidades que uma madrugada sozinho pode permitir. Eu segurando para não abrir meus dentes até meu ouvido por saber que você estava parado na minha frente me olhando. I Love him, I Love him, I Love him! Entendi o recado na hora e achei que deveria sair no mesmo silêncio que entrei. Eu confessava para o mundo o que eu sentia naquele momento, achando que o mundo te contaria esse segredo. Sua cabeça girava em rotações elípticas e seus pensamentos pareciam fugir de você para bem longe. Mantinha meu eixo em você e tentava olhar nos seus olhos, mas não tinha coragem. O ritmo da sua mão ia diminuindo como se a qualquer momento o sangue fosse jorrar e você não tivesse mais o que fazer. Aqueci minhas falanges para não ter a menor dificuldade de te dissecar até o fim daquela noite. Eu olhando para você. Você olhando para mim. Você fechou os olhos como se quisesse que no abrir deles, eu desaparecesse. Fechei meus olhos querendo que seus cílios se misturassem aos meus. Bati a porta ao sair. Acordei?