sexta-feira, 24 de abril de 2020

Porque eu não era

Vivemos bons momentos, mas ele sumiu. Talvez porque eu não fosse vegetariano. Eu lembro bem quando escolhemos os nossos tacos naquele restaurante no-fancy fake. Pedi de camarão e carne de porco desfiada. Dividimos a conta igual. Era domingo e nem ganhei um beijo. Ou porque eu não fosse húngaro. Tínhamos a nossa distância, mas quando passamos a morar poucos quarteirões, ele não quis mais me ver. Quem sabe porque ele já estivesse transando com aquele outro cara que eu já desconfiava (comentava todas as postagens dele no Facebook e ele ainda fazia post de piada interna) e ele insistia em dizer que eu era maluco. Pode ser porque eu me recusei a ser um pai para ele e não deixei que jogasse as tarefas chatas da vida adulta para mim. Porque eu meti muito mal na nossa primeira transar e ele ficou dolorido pela minha falta de jeito. Quiçá tenha sido porque eu não era uma pessoa controlada e depois de ele fazer hora com a minha cara, marcar com todos os peguetes na mesma festa e tentar ir embora de à francesa, eu fiz um escândalo, puxei ele pelo braço no meu da rua lotada e ainda gritei mil coisas. Ele pode ter percebido que eu não seria a melhor companhia para visitar constantemente parques temáticos ao redor do mundo. Não importou que a gente tenha uma conexão, conversa agradável, um sexo incrível e que ele adorasse o gosto do meu pau na boca dele. Ou que eu fui aquela pessoa que acompanhou a angústia dele na espera do português que sempre atrasava e fazia ele desmarcar a mudança para a Europa. Por que levar em consideração uma noite agradável de queijos, vinho, judaísmo e massagens no chuveiro? Quem se importa que eu tenha tirado ele da rua e dando um lar mesmo o conhecendo há duas horas? Qual a importância de ter cogitado largar uma nova vida por uma novíssima por estar totalmente apaixonado? Deve ser porque ele não estava realmente a fim e ainda amando o ex. Talvez eu deveria ter pago a conta inteira do restaurante já que ele tinha pago pelo drinks no bar intelectual anterior. Ou simplesmente porque eu não era.
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Eu sou aquele preferiu conversar com ele em espanhol a inglês para criar um campo neutro idiomático. Sou desses que pode se envolver a distância através do Ok Cupid e mensagens por WhatsApp. Sou uma pessoa que não fala tudo o que sente mas sabe demonstrar com exatidão cirúrgica desde que preste atenção. Eu não sou de mentir e falar que está tudo bem apenas para fazê-lo se sentir confiante. Sou maleável para dividir uma pizza sem carne mesmo quando de fato eu queria presunto. Fui aquele que passou a noite te comendo a base de vodka, energético e cocaína. Ainda sou um seguidor que vejo seus Stories, curto as suas fotos e dou print para mostrar para os amigos. Por que eu sou?

(texto sem revisão)

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