Olha para essa janela e acha que essa vista é tudo? Você sabe
que não. Nós sabemos que não! Cada exclamação sabe que não. Segura esse copo
cheio de vodka com gelo e fica hipnotizado pelo barulho das pedras batendo umas
contra as outras. Tudo vai derreter e você vai ser obrigado a aguentar o
silêncio. Vai torcer para um carro passar em alta velocidade ou um mendigo
encachaçado gritar e quebrar garrafas pela rua. Vai ter que ouvir a minha voz
gritando bem dentro do seu ouvido. “Covarde!”. Só vou precisar falar uma vez e depois co var
de vai ecoar dentro da sua cabeça. E será a sua voz que vai te perturbar. Sua risada sarcástica vai arranhar seus tímpanos
e vai te deixar louco como se uma abelha tivesse entrado por sua orelha. E depois de mais um tempo essa abelha vai começar a se multiplicar e logo uma colmeia zumbindo e berrando: COVARDE! A abelha-rainha logo começará a se alimentar de cada um dos seus neurônios.
O zangão dos seus sentimentos. As operárias vão querer devorar seu corpo inteiro
por dentro. Ferrões vão brotar no lugar dos seus pelos. Ninguém vai mais poder
te tocar. Eu não vou mais. E nem você mesmo vai conseguir encostar sem
arder. Sabemos que logo chorará de
raiva, depois de tristeza, de revolta e depois de arrependimento. Suas lágrimas
serão de mel e logo ficará todo lambuzado. Vai atrair vespas rivais e sua pele
melada vai virar um campo de batalha. Só te restará ficar paralisado, sozinho,
no meio de um parque frio e com árvores sem folhas. Vai sentir saudade da minha voz e nessa hora,
eu continuarei mudo.
sexta-feira, 23 de maio de 2014
der Feigling
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