segunda-feira, 18 de abril de 2011

Deitada no sofá, ela dorme

Dorme no sofá da sala. Minha vontade é de sempre levá-la embora comigo. Nem parece que fala gritando. Que sempre resmunga quando acorda. Tem uma inocência que é mais bela que a das crianças. Explico. Ela mantém uma pureza de olhar que quase cinco décadas não conseguiram tirar. Se ela fala baixo, eu quase choro. Ela não sabe lidar com o dor. Não teve a do parto. Não tolera bem as partidas. Sozinha no sofá da sala e com a televisão ligada. Sempre fico tentando imaginar seus sonhos. Às vezes, ela narra trechos enquanto cochila. Antes das seis vai acordar. O ritual é o mesmo todo dia. Vai se levantar e colocar a água para esquentar no fogão. Começa a se arrumar. A água ferve e ela joga o pó de café. Sempre muito pó. Açúcar nem tanto. O coador tem que ser de pano. Ela vai beber apenas metade do que colocou na xícara. Se tiver pão, vai comer também. Etapa final da arrumação. De frente ao espelho vai pentear os cabelos e prendê-los bem rente a cabeça. Pronta. Segue rumo ao trabalho e só volta no fim da tarde.

Todo vez que eu a racionalizo, seguro as lágrimas. Isso, definitivamente, eu não aprendi com ela.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Postais extraviados

Ele não vai te enviar nenhuma carta. Não entendo por que você espera tanto. E você não será a musa de nenhum poema. Nem mesmo de um bilhete num guardanapo de bar. Disso, ele faz papel para fumar um baseado. Ele não vai dizer que te ama. Mesmo que você insista em forçar uma declaração. Talvez, ele nunca olhe para sua cara. De fato, ele já deletou seu telefone do celular e só não te apagou de todas as redes sociais porque ele não tem perfil em nenhuma delas. É provável que ele já tenha esquecido seu endereço. Ele não vai te enviar nenhum cartão postal. Mas, se eu fosse você, esperaria do mesmo jeito.