terça-feira, 9 de novembro de 2010

Buuu!

As madrugadas ficaram pequenas demais para tantos fantasmas. E eles perderam o medo da luz do sol. Foi o tempo que iam embora às 6 horas e me deixavam dormir. Hoje usam óculos escuros baratos comprados de algum ladrão. Ainda usam lençóis com furo nos olhos e se movimentam pelo quarto sem nenhuma forma. Há os mais depravados que usam pano transparente e exibem suas partes mais íntimas. Gostam de tirar meu sono com violência. Deixam meus olhos ficarem pesados, meu corpo quente e minha boca seca. Me deito, me cubro e me ajeito nos travesseiros. E eles chegam.

Acendo a luz e eles se escondem dos meus olhos. Ficam cochichando entre si. Dão risadinhas e se calam com respiração bem forte. Sim, eles ainda respiram. Tossem, espirram, espirram... Disfarçam. Fingem que vão embora. Dão tchau e um beijo de cada lado do rosto. Não do meu. Colocam o chapéu e dão meia-volta. Pulam em cima da minha cama, dançam tango na minha mesa jogando livros e papéis pelo quarto e usam minhas roupas como se fossem deles. Apenas uma poderia ser.

Quando se cansam, abrem a janela e somem. Eu fico com o sol forte da manhã, com o barulho dos carros na rua e com o cheiro do almoço sendo feito no apartamento de baixo. Olho no espelho e vejo, agora, um zumbi.