segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Talvez fosse agosto

Num canto da casa tudo seria amontoado. Aos poucos, minha mãe ia comprando todos os objetos da decoração. Varias cores de papel crepom, cartolina, bolas de isopor, purpurina, cola, pincel, tinta e canetas hidrocor. Ela também comprava os pequenos brinquedos das lembrancinhas que eram dados em sacos de papel colorido junto com doces. Eu e meu irmão não ganhávamos nenhum deles. Por fim, na estante eram guardadas as muitas latas de leite condensado, os pacotes de trigo, açúcar e chocolate. Muitas latas mesmo. Não, não acabava. Na geladeira ainda tinha banha de porco, camarão, ovos, carne moída e uma pena de galinha.

As cartolinas eram cortadas e viravam convites. O papel crepom frisado era colado a uma bola de isopor com um rosto desenhado. Tudo trabalho de muitas madrugadas. As manhas eram reservadas para o trigo se transformasse em um bolo de vários recheios, ou em pasteis, ou em empadas que também levavam banha, sal, eram preenchidas com camarão, tampadas com massa e besuntadas com gema por uma pena.

Não havia uma só garrafa pet. Era tudo de vidro, no máximo de um litro. Muito barulho de vozes. Um entra e sai de pessoas diferentes que sempre tinha alguma tarefa para executar na cozinha. Quem não tinha nada para fazer, era obrigado a soprar bolas até ficar com a boca branca e os ouvidos zumbidos dos eventuais estouros. Logo a sala virava uma piscina de bexigas azuis e brancas que eram amontoadas em cachos e penduradas na sala.

Já era de noite, mas ainda não havia ninguém arrumado. Era hora dos banhos. Os aniversariantes, os primeiros. Apesar dos três anos de idade, as roupas eram iguais. Só as roupas. E mesmo assim teria um que perguntaria “são gêmeos”. Aos poucos conhecidos e desconhecidos se misturariam aquela decoração de palhaços. Ficariam surpresos que na hora do parabéns ninguém ali estivesse de fato fazendo aniversário.