segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Uma mensagem após o sinal

É claro que essa “carta” poderia vir naquelas noites de vodka e em que a pele fica aveludada assim como os sentimentos. Eu queria muito que fosse assim, mas são sete e pouco da madrugada e eu devo ter dormido só umas três. A gente voltava juntos e você disse que sempre que passa em frente ao supermercado grande lembra dele. Eu disse que também lembrava. Você contou que naquele dia tinha gostado muito dele. Mas, eu não falei que nunca deixei de gostar. Claro que desviei o assunto dizendo que ainda queria minha vingancinha boba e emendei com um monte de bobagens. A verdade que com o tempo, as coisas ruins foram ficando pequenas e eu fiquei repleto de lembranças felizes mescladas com frustrações. Óbvio que também lembro de nós comprando qualquer coisa, de vocês sendo apresentados na fila do caixa e ele com o carinho laranja pela General Polidoro. Eu me lembro de todos os dias dele aqui no Rio, dos meus lá, do primeiro encontro e do último não-encontro. 

Acho que lembrar nem é o verbo. De fato, não esqueço. Não é aquela memória que estava lá no fundo do mente e vem. É um filme em looping que é interrompido pela vida que segue diariamente. É assim quando me deito e recordo dele na minha cama, mesmo ainda quente e úmida depois de mais uma visita furtiva.  Ou quando passo por um lugar bonito ou vejo alguma peça de design diferente. Só precisei de um ano. Cinco meses já se passaram e sempre me vejo com essas “recaídas”. Eu imagino que nada de que estou te falando seja uma surpresa. E eu já estava bem disposto a reiniciar o contato. Não, não em busca de um retorno onde paramos. Seria lindo, mas seria falso. Queria voltar a ter as conversas divertidas e longas. Queria poder olhar para ele que entendo melhor o que a gente passou e que hoje teria sido mais suave. Eu estava bem disposto a isso. Talvez, eu esperasse até depois de amanhã. É uma idéia que eu estava amadurecendo. Eu ia precisar de uma deixa boa. Nossos aniversários já passaram e não temos tanto assunto.

***

Não tem Cristo hoje. As nuvens o cobrem todo e só um pedacinho da pedra está exposto. Eu, me sentindo em 1999, ouvindo Joinning You – versão mais lenta que só tocava no rádio - enquanto te escrevo. Eu, me sentindo um trapo. Sabe quando a gente tem certeza de uma coisa ruim e fica com aquela esperança até o fim de estar errado? Então, eu estava certo. Bem certo. Dardo bem no meio. 100 pontos. É claro que eu poderia ter ficado com a dúvida, mas ser outra pessoa pode ser mais complicado do que dizer que me chamo Henrique para um desconhecido. Um álbum cheio de fotos de um amigo em comum. Ele reaparece com aquela mesma carinha e olhar triste. Reparo e vejo por debaixo do cardigan uma camisa que eu foi minha e eu dei presente. Seta da direita. Mais uma foto. Passo. Agora, ele sozinho tirando uma foto com o celular – que já não é o mesmo e provavelmente tem agenda nova. Next picture. Gente aleatória. 

Next. Next. Next . Pronto!  O louco aqui não estava errado – e nem um pouco feliz por isso. Os melhores amigos na mesa e a nova conquista sendo apresentada – a legenda dizia isso, caso eu fosse um pouco lerdo. Todos lá, comendo a sobremesa que eu nunca pedia e conversando no momento que eu já teria pedido a conta. Mas, um detalhe: o cara vestia uma outra camisa que foi minha e que também dei de presente – não a ele. Que merda é essa? Por que aquele garoto estava vestindo aquela blusa? Será que ele sabia a história dela? Eles agora dividem o guarda-roupa?  Não, não me interessa. Mas, não existe o botão off. Mais fotos e agora são do aniversário dele. No ano passado, ele vestia a mesma camisa que o garota usava na foto anterior. Confuso não? E agora, vestia outra camisa que foi minha e... 

Enfim, dois anos seguidos e "eu na festa". A amiga solteirona feliz – ou fingindo, só saberemos a verdade depois de mais um término, o amigão, os dois juntos mais não muito conectados. Não sei se é uma forma de me confortar, mas eu não via uma olhar feliz nele e a camisa... Não acredito que não tenha percebido a coincidência. Mas, nem sempre dá para ter certeza se foi um ato falho ou apenas um cachimbo. E eu, tremi de raiva. E eu, tentei dormir e sonhei com tudo. O farmacêutico avisando que agora ele moravam juntos e eu saindo por Buenos Aires tentando esbarrar um encontro, uma satisfação e sem rumo nenhum. Não era difícil ter dito um sonho ruim – que a medida que te escrevo, esqueço. Já devo ter repetido mil vezes a música. Ela veio na hora quando pensei em te escrever. Colaria os trechos que dizem exatamente o que penso e adaptaria os demais. Mas, sei que já estamos afinados para eu não escrever e você ler mesmo assim. Desenhei. Tentei escrever para você duas vezes. Apaguei. E agora, temos isso, minha longa mensagem após o sinal.