sexta-feira, 29 de março de 2013

A flor de estrada

Cortando o interior da Bahia. Uma chuva bem rala na estrada. Os vidros do ônibus embaçados. No acostamento, bananeiras dançavam com o vento. Começo do dia ou fim da tarde. A mesma luz. A gente era feliz. Eu dormia. Eu acordava. Zzzzonolento.  Não sei de quem foi a idéia de por aquele disco da Gal para tocar. Caixas de som abafadas.  Minha honey baby. Baby. Honey baby. Você passava a mão nos meus cabelos enrolando o dedo mindinho  nos cachos que formavam tímidos. Era gostoso. Mesmo com meus olhos pesados, eu via seu sorriso para mim. Oh minha honey baby. Tão sincero. Por que você era tão carinhosa? O caminho era uma grande reta. A velocidade do ônibus aumentava e as gotas da chuva iam escorrendo pelas janelas. Lágrimas que evaporavam. Eu respirava bem forte para dentro do meu pulmão e tentava não soltar o ar. Achava que se eu fosse segurando, ia sair mais leve. A idéia era flutuar como uma sacola plástica que cai em vendaval. Gira. Gira. Gira. E depois se arrasta pelo chão e fica na beira da estrada. Ou presa em algum galho. Quem sabe.