sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Antônio para Antônio

Lapa, 21 de setembro de 2009

Antônio,

A intenção é que você nunca receba essa carta. Estou sozinho no meu quarto trancado. Não tenho cama, as paredes sem meus quadros e o guarda-roupa com as portas soltas. Falta vida aqui dentro. Durmo em dois colchonetes finos emparelhados cobertos por uma colcha grossa e um lençol novo. Uso dois travesseiros. Um de espuma e outro de penas de ganso e me cubro com uma manta que comprei no Nordeste. A cortina não tampa toda a janela e o som de fora entra sem pudor junto com a luz do dia. Sonhei com você na noite passada e é por isso que estou escrevendo. Pelo sonho e não por você. Minha campainha tocou e pelo olho-mágico da porta não pude identificar mais que um vulto. Abri a porta e você sorriu. Estava de calça jeans com a barra da cueca a mostra. Sem camisa e suado ou molhado – não lembro do gosto que tinha quando te lambi. Sua pele estava acenourada como se você morasse à beira-mar. Seu cabelo estava gostoso de passar a mão. E seu sorriso foi o catalizador para te jogar no meu colchão de casal que estava na sala. A cada fechada de olhos para te beijar, você ficava mais sem roupa. Lembro do reflexo do sol na pelugem da sua bunda e da voracidade com eu passava a língua nela. Minhas mãos deslizavam pelas suas costas em movimentos ritmados que sempre terminavam por suas suculentas carnes. Apertava seus braços e massageava seus mamilos com as pontas dos meus dedos. Beijava sua boca deitado em cima de você. Sua barba avermelhava o meu rosto. Tínhamos a cor de uma fogueira. Eu segurava seu pau pequeno e fino enquanto te invadia. Você me engolia quente. Nos engolíamos. Deitado em cima de você, olhava seu rosto encharcado e aquele mesmo sorriso da porta. Tentávamos engatar uma conversa pós, mas nenhuma palavra surgia. Mentira. Às vezes conseguíamos formar uma frase, mas nunca tinha nexo. Sorriamos como nos entendêssemos, mas na realidade não. Olhávamos um para os olhos do outro e não nos víamos. Quando acordei, percebi que nunca existíamos. Sempre fomos enuvenzados.

Sem mais

Antônio

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Estrada do Galeão

Exatamente na hora marcada, ele chegou à porta do aeroporto. Me esperava no desembarque azul – internacional. Seria difícil ele entender que Vitória não fica em outro país? O carro só tinha duas portas, era pequeno e sem ar-condicionado. Desde quando carioca ignora o calor? Disse que foi de bom grado, mas porque era no Galeão, se fosse o Santos Dummont, ele não iria. Alegou que não gosta de sair da Ilha pra nada. Tomei a direção do volante e joguei o lado dele do carro contra um caminhão de carga. Agora, ele vai dormir na geladeira do IML, no Centro, para deixar de ser mané.