quinta-feira, 25 de junho de 2009

Último carnaval

Só hoje encontrei a senha do meu e-mail antigo. Eu já tinha feito o esboço dessa carta. Resolvi que seria assim, por papel, que mais uma vez iria te procurar. Desde que apaguei meu perfil no orkut e meu fotolog, nunca mais trocamos uma mensagem. Não tenho usado nenhum tipo de messenger e nunca mais abri meu skype. Você jamais me passou seu telefone e também nunca pediu o meu. Enfim, não havia como a gente se comunicar.

Não sei como contar que eu não morri. Não tenho idéia de onde surgiu essa história. Quando percebi, o enterro já estava marcado, túmulo encomendado e as coroas de flores chegando. Tão lindas e tão caras. Ganhei um obituário de uma página no primeiro caderno do jornal de domingo e a metade dos classificados eram mensagens lamentando a minha “precoce partida”. Meu velório foi concorrido e demorado. Por fim, minha família que nem é judia se trancou com setes dias seguidos dentro de casa em luto. Só saíram para a missa na catedral metropolitana com o cardeal arcebispo.

Fiquei confuso com a situação, mas não posso mentir: eu fiquei deslumbrado com tudo. Minhas melhores fotos no jornal, “tão jovem e bonito para morrer”, lamentou uma leitora da seção de cartas. Até no busto de bronze no jazigo, fiquei bem. Como eu poderia simplesmente dizer que era tudo um engano, que eu estava (estou) vivo, mesmo que gordo e com alguns anos a mais na face? Não dava. Tinham eternizado a minha imagem. A mesma que ficou para você naqueles três dias de carnaval que passamos juntos numa praia na divisa entre o Espírito Santo e a Bahia. Morto, era como se aqueles dias fossem intermináveis, em loop.

Não sei se agora você ainda lembra. Mas, eu nunca esqueci. Você foi meu grande e eterno amor de carnaval. Sazonal, mas intenso. Espero muito que um dia a gente volte a se corresponder e que você entenda tudo o que fiz, ou melhor, que deixei de fazer. Anseio que você entenda meu encantamento por essa morte falsa, porém onírica. E que também compreenda que tive receio de que, depois de terem feito esse luto por mim, não quisessem chorar mais uma vez quando, de fato, eu morresse. Você não tem idéia de como é triste uma funeral vazio. É como se a gente não tivesse morrido.

Um beijo com saudade,

H.S

Vitória, 13 de Março de 2009.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

programa de vovó

Acho televisão uma coisa enfadonha. Antes que pensem que é birra aos avanços tecnológicos, já digo que não. Até porque, qual a grande tecnologia da/na televisão? A maioria das novelas tem a história parecida com as três primeiras que vi antes de ir para o colégio de freira no norte do estado. Acredito que programa de fofocas e receita é coisa de/pra velha que não tem o que fazer em casa. A vovó, aqui, é ocupada. Assistir a telejornal é coisa de masoquista. E a vovozinha, aqui, é uma dominatrix. Prefiro desligar a TV e viver a pornografia. É assim que volto do mercado sempre com o carrinho cheio.